Prof. Lucas RC de Oliveira
7 de outubro de 2022
Nunca foi nem será dessa vez que a tecnologia será a panaceia, a boia de salvação da educação, primeiramente devemos ter consciência do que entendemos por tecnologia educacionais. São instrumentos ou técnicas que a sociedade criou para a transmissão dos conceitos e saberes de sua civilização. Sendo assim podemos definir tecnologias educacionais desde as tábuas de barros sumerianas, os pergaminhos medievais, nossa boa e velha dupla, giz e lousa bem como livros, ábacos, e toda sorte de brinquedos e apetrechos desenvolvidos a esse fim. Supor que internet, tablets e computadores são a pura tecnologia na educação é uma grande falácia, e supor ainda que ela irá salvar a educação das contradições que enfrenta e no mínimo ingenuidade.
Vejamos um breve histórico, quando o rádio se popularizou este chegou a ser apresentado como o grande nivelador que poderia levar a sala de aula aos mais afastados rincões do país, na época surgiram vários programas educativos destinados a estes fins, contudo como se pode observar o impacto que causaram foi ínfimo e não ajudou a mudar a triste realidade do país que nos anos 30 e 40 contava com mais de 56,8% da população analfabeta. Posteriormente a televisão substituiu o rádio como grande salvadora da pátria educacional, com ações se estendendo até nossos dias como os programas do Telecurso 2000 ainda reprisados em alguns canais públicos. A TV também foi atribuída a função de animar as aulas “tornando mais interessante” o processo educativo, uma vez que a partir dos anos 80 a televisão já era uma constante nos lares brasileiros e alguns programas começaram a moldar a infância.
Hoje com as TICs (Tecnologias da Informação) entendidas como dispositivos eletrônicos conectados à internet que podem ser multifunções cabe a função que um dia foi da TV, do Rádio e até no início da renascença do livro. Serem o grande indutor que atrai a atenção dos pequenos para os estudos e vai de uma vez por todas equalizar a difícil conta da aprendizagem versus interesse dos alunos.
Contudo com mais de 20 anos da introdução dessa tecnologia no processo educacional, vimos que a situação não foi tão simples, se o problema eram os recursos para a aquisição desses caros componentes e serviços, hoje com seu eventual barateamento e sua praticamente massificação as coisas não transcorreram como o esperados e os computadores novos, recém saídos da caixa, conectados ao mais rápido link de internet, sozinhos serviram apenas como acumuladores de poeira.
A questão é qual a verdadeira natureza o processo educativo, enquanto ficamos admirados com a “perfumaria” (jargão do mundo de desenvolvimento de software para designar recursos de puro embelezamento duvidoso mas sem nenhuma aplicabilidade), não percebemos o quanto ensino e aprendizagem podem ficar comprometidos, vejamos o caso dos milhares de cursos EADs que infestam o catálogo de graduações do país, obviamente todos alicerçados numa massiva transmissão pura de conteúdos, no contexto atual o que esses cursos fazem é organizar a informação que já está disponível na internet de uma forma dispersa e colocar um timbre com o nome de algum instituto ou universidade. A pandemia veio como grande exemplo de que meras metodologias expositivas e transmitidas não garantem o aprendizado, principalmente entre os pequenos da Educação Infantil e das classes de alfabetização.
Num contexto geral um verdadeiro ensino de qualidade é algo complexo, uma mesa de muitas pernas, conteúdo e como ele é transmitido são apenas algumas delas, obviamente são importante pois o "conteúdo" para ser mais preciso o currículo pode ser considerado o núcleo ideológico do processo, por ele percebemos o que a sociedade espera da escola. Agora a forma como é transmitido também pode ser um importante avaliador de qualidade e sintonia das instituições de ensino com seus alunos. Uma vez que situações anacrônicas de transmissão de conhecimento podem ser hoje um dos graves problemas da educação brasileira.
Mas a educação tem outras pernas, e uma delas e talvez a hoje a mais desprezada é o papel da relação entre aluno, aluno, aluno professor e aluno sociedade, e isso até o momento não pode ser replicado nem pelo mais poderoso computador ou transmitido pela mais rápida das conexões de internet.
Por essa relação alunos e mesmo professores podem complementar seu conhecimento, confrontar opiniões diferentes, estilo de vidas e crenças. Essa interação que por hora só é possível pessoalmente foi colocada à prova durante a pandemia e diversos males que o isolamento forçado causou reafirmam a presença da educação presencial e a importância das relações humanas no processo educacional.