09 de março de 2023
Prof. Lucas RC Oliveira
A ADAPTAÇÃO NUM CONTEXTO GERAL:
A adaptação dos pequenos é um momento crucial na Educação Infantil, ele vai definir boa parte da relação que a criança e família terá com a instituição. Também é o primeiro contato entre a criança e os professores e entre as crianças e demais funcionários do estabelecimento. Mas não devemos nos esquecer que é um momento de extrema emoção e tensão para todos os envolvidos, seja os familiares pelo natural receio de deixar suas crianças pequenas com “estranhos”, dos professores que recebem uma nova turma e que de alguma maneira estão sendo observados e avaliados a todo o momento, sem contar as situações estressantes envolvendo choro, recusas e demais manifestações naturais a situação. Mas sobretudo das crianças que provavelmente estão tendo a primeira experiência fora do núcleo familiar, medo de abandono, de pessoas desconhecidas e de todas as situações estranhas a sua rotina são oferecidas praticamente de uma só vez e precisam ser processadas por cérebros bem imaturos. Neste contexto tão difícil cabe aos profissionais da escola, professores, gestão e demais envolvidos ter bem claro a filosofia e concepção do que é o período adaptativo e entender que ele é diferente de criança para criança e que pode variar muito entre estes.
Os profissionais devem entender as múltiplas linguagens e “mensagens” que a criança envia, e que nem sempre o choro é um padrão, silêncio ou apatia podem demonstrar sofrimento tão grandes quanto aqueles que estão aos berros se debulhando em lágrimas.
O PROFESSOR ESPECIALISTA NO CONTEXTO DE ADAPTAÇÃO:
Se para o professor regular a situação não é fácil, para o especialista que tem algumas ou apenas uma aula com a criança por semana a situação também não é tão fácil. O pouco tempo de convívio com as crianças dificulta a criação de laços afetivos e mesmo de reconhecimento do mesmo. Existe também a desconfiança da família, sendo muito comum que depois de algum tempo a criança aceita a professora regular de sala mas não aceite as aulas com os especialistas, o que deixa muitos pais que já estão numa situação emocional frágil ainda mais apreensíveis. A equipe escolar também possui suas dificuldades, onde geralmente as sala dos pequenos possuem assistentes e estagiários que estão em tempo integral acompanhando os pequenos, o vínculo tende a se formar bem rápido na maioria das vezes, quando esses profissionais acompanham as crianças as aulas dos especialistas podem ocorrer algum tipo de conflito de autoridade uma vez que para a criança esses estagiários ou auxiliares são as pessoas de referência no convívio. Por parte dos desses funcionários também pode acontecer algum tipo de conflito, uma vez como dito estes estão em constante contato com os pequenos, os conhecendo com relativo detalhamento, hora que tem sono, fome, maneirismos, preferências, enquanto o professor especialista por vezes nem o nome da criança ainda conseguiu guardar.
Pelo lado do professor especialista do ponto de vista metodológico a situação não é nada fácil, uma vez que no país existe uma grande escassez de literatura e até mesmo de exemplos práticos para nortear seu trabalho em classe, enquanto situações específicas como a da adaptação, ouso dizer, não existir um parágrafo em língua portuguesa.
Em torno da problemática qual seria a solução ou pelo menos os procedimentos que tragam alívio a tal.
A primeira atitude seria pautar-se pela sinceridade, reconhecer que se trata de um período difícil à dinâmica escolar, mas também reconhecer que embora difícil é passageiro. Que o grupo escolar em conjunto deve expor suas demandas e em grupo tentar encontrar a situação, não é momento de apontar erros, mas de entender a real necessidade e a real situação de cada um envolvido na situação.
Cabe aos gestores a tarefa de orquestrar essa difícil dinâmica, mas também cabe a cada um reconhecer seu papel e suas responsabilidades.
A equipe escolar deve ter bem claro a situação de cada membro, e ter a clareza que para os pais e responsáveis essa dinâmica não é bem clara e como dizemos anteriormente não é só a criança que está num período intenso emocionalmente, para algumas famílias esse é um período muito difícil.
O diálogo entre os pares é fundamental, se por um lado o professor regular com alguns dias já passou a conhecer bem suas crianças o professor especialista talvez só tenha tido uma ou duas aulas de apenas 50 minutos cada e este atendendo várias turmas tem que enfrentar diferentes realidades no mesmo dia.
Outro fator a se pensar é a questão do espaço, professores especialistas geralmente ministram aulas de Educação Física, de Artes, Informática, Inglês ou outra língua estrangeira, sua configuração de trabalho são variadas dependendo de cada instituição, alguns usam a própria sala de aula convencional, outros possuem seu espaço dedicado de trabalho, como ateliês, quadras ou laboratórios de informática. Essa mudança no ambiente também precisa ser planejada, uma vez que a criança em processo de adaptação, tem em primeiro momento sua sala de aula como ponto de referência é de lá que ela se orienta sobre as outras localidades da escola, o banheiro, o bebedouro, o pátio do recreio, o parquinho e o portão de saída onde ao fim das aulas os pais estarão a esperando para levá-los para casa, onde voltarão para o mundo conhecido e seguro.
Tão cedo fazer essa mudança, logo nos primeiro dias, talvez não seja algo tão benéfico, cabendo a equipe optar pela escolha da sala regular ambiente onde a criança já começou a adquirir confiança.
Ao professor especialista, este deve entender seu papel, não se abalar com as recusas das crianças ou com o choro que pode aparecer bem depois que o pequeno já se acostumou com o professor regular. Sua relação com os outros profissionais também deve ser pautada pela transparência e profissionalismo, uma vez que se a relação entre professores pode ser facilitado pela formação acadêmica e pelas experiências profissionais que de certa forma se assemelham, o convívio com auxiliares e estagiários pode ter alguns desafios, uma vez que esses profissionais se não orientados podem não ter bem claro o papel institucional de cada um dentro da escola.
O professor especialista também deve ter bem claro esse papel, embora por vezes sua formação acadêmica advenha de cursos de licenciatura que por tradição costumam formar docentes para o Ensino Fundamental dos anos finais, é preciso que esteja claro que em uma instituição de Educação Infantil existem especificidades muito importantes, como a do cuidar, de questões emocionais, da proximidade com as crianças, do contato físico e da maior proximidade com os pais, (pelo menos a maioria), de que fatores como o desenvolvimento global e integral da criança prevalecem sobre as especificidades de sua disciplinas. Bem como os métodos avaliativos não podem se concentrar em premissas quantitativas avaliando apenas parte do processo. O professor especialista em uma instituição de Educação Infantil precisa se conectar ao ambiente e entender que o período de adaptação é natural e que ocorre todo ano, que as reações das crianças são advindas do grande estresses a qual estão sendo submetidas e que por serem bem pequenas não possuem mecanismo emocionais para reagir a situação, que muitas vezes o choro alto, o grito e até mesmo mordidas e agressões são as únicas ferramentas que possui para enfrentar aquela situação.
Cabe aos adultos envolvidos naquela situação o papel de membros maduros, orientar da melhor maneira possível os pequenos e nesse contexto o professor especialista é mais um elemento dessa dinâmica por vezes tão custosa mas tão necessária ao desenvolvimento de nossas crianças.