Prof. Lucas RC Oliveira
09 de novembro de 2021
É inegável que a profissão docente tem, ou pelo menos deveria ter, como maior diretriz a constante formação e aperfeiçoamento. Principalmente a formação em serviço, na maioria das outras áreas é assim, como medicina, engenharia, porque na carreira do magistério o aprimoramento é visto por vezes com tanto desdém?
Talvez porque incrédulos com tantas reformas falaciosas, tantas mudanças inúteis que concentram em problemas abstratos e se negam a ver o verdadeiro motivo do fracasso educacional brasileiro; uma combinação de péssimas condições de trabalho, aliados à baixa remuneração e uma formação inicial no mínimo deficitária na grande maioria.
Não é atoa que a classe dos professores se tornou tão cética e fez da experiência pessoal em sala de aula seu bastião de segurança e firmeza profissional.
Contudo seria impossível a qualquer docente, por mais mérito intelectual que tenha trilhar por experiência própria todo o caminho que a ciências educacionais fizerem ao longo da história humana, e mesmo que o fizesse nada iria garantir que todo esse conhecimento o auxiliará com os desafios dos tempos contemporâneos.
Faz então necessário o espírito de colaboração entre os pares, entre a escola e os centros de pesquisa e um link constante entre a prática educativa, sua legislação e todo o escopo teórico que rege qualquer instituição, mesmo que essa alega veemente ter urticárias de teorias.
É na biblioteca escolar, não aquela reservada às crianças, mas a formativa, na qual toda escola deveria ter seus principais balizadores teóricos, depositados firmemente em suas estantes que se deveria encontrar os alicerces da prática pedagógica daquela instituição.
Pois tão importante quanto nutrir os pequenos com boas obras literárias, é de suma utilidade que o professor tenha acesso ao mais variado e rico material para auxiliar sua prática. Não falo apenas dos livros didáticos, na maioria das vezes um recorte imediatista da realidade, mas de obras originais dos pensadores que formam o cabedal teórico da proposta trabalhada naquela escola.
Cabe aos mantenedores sejam eles públicos ou privados a obrigação com esse investimento, pois se por um lado é obrigação do professor administrar sua formação inicial como em qualquer profissão, e para isso é indispensável ter uma pequena biblioteca pessoal (quando as condições o permitam). A escola tem o dever institucional de fornecer os mais altos saberes teóricos disponíveis segundo suas normas e ideologias.
Infelizmente, a leitura nunca foi algo levado com tanta importância, quanto regras gramaticais ou resolução de algoritmos matemáticos e se a situação das bibliotecas infantis nas escolas chega a ser desoladora, a da biblioteca do professor quando existe é na maioria das vezes pavorosa.
A leitura e o tempo para exercê-la devem ser contabilizados como um período de aperfeiçoamento, seja ele realizado na escola ou em casa. O fazer docente embora se concretize na prática, com o contato com o aluno é construído por uma sucessão de eventos onde a leitura pode ser considerada a sua gênese.
O ato pedagógico não é apenas um ato prático, é antes de tudo a amálgama de uma profunda reflexão que nasce de alguma concepção de mundo, criança e saber e essa concepção é balizada pelas experiências práticas e intelectuais que esse docente acumulou ao longo de sua carreira.
O espaço da biblioteca do professor deve refletir também o amadurecimento da instituição quanto a produtora de conhecimento, cada escolha de livro reflete a trajetória acadêmica da escola, o quanto aprendeu, se modernizou e valoriza esse esforço.
Uma escola que não pensa seu acervo literário para o docente, escancara seja pela omissão dos mantenedores seja pela falta de cultura literária, uma instituição que ainda não percebeu seu papel como difusora de cultura e saber.