Lucas RC de Oliveira
Com o começo da pandemia em meados de março o mundo viu aturdido seu modo de vida abalado pelo Covid19, de uma hora para outra as instituições pilares de nossa sociedade foram fechadas ou passaram por restritas regras de segurança e assepsia como no caso dos hospitais. Em se referindo as escolas e universidades em princípio a solução foi seu completo fechamento, isso não apenas afetou nosso país mais todo o mundo, segundo a UNESCO, aproximadamente 90% dos alunos estão ou foram diretamente impactado pela pandemia. Inicialmente, pelo manos aqui pensou-se que teríamos um cenário semelhante ao que ouve em 2009 com a gripe aviaria (Influenza A, H1N1) onde a paralização durou poucas semanas e um rápido ajuste no calendário acadêmico foi possível, infelizmente o caso agora foi mais profundo e a paralização não durou semanas, mais vai se estendendo pelo semestre e provavelmente afete todo o ano letivo, uma situação ímpar, só comparável a 1919-1920 com a terrível pandemia de gripe espanhola, contudo não podemos tirar proveito daquela experiência uma vez que na época não tínhamos um sistema de ensino tão robusto que atende-se um gama tão ampla de crianças e suas famílias, a educação era mais restritiva, praticamente reservada a uma pequena elite, provavelmente os danos foram mais facilmente solucionáveis. Contudo agora o desafio é muito maior e ainda por cima não podemos contar com os exemplos do passado e nem de outros países uma vez que todos estão na mesma “canoa furada”, embora os países ricos e desenvolvidos possam se garantir fazendo uso dos recursos tecnológicos como vídeo aulas e plataformas de EAD (mesmo nesses países os resultados são discutíveis) o Brasil não pode se apegar a essa tabua, pelo menos no que se trata de educação pública e popular, já que a educação privada cuja a base familiar no geral dispõem de uma estrutura para isso já vem aderindo na maioria das escolas desde abril, na maioria das redes públicas a situação é muito complicada. Reconhecemos o esforço de alguns governos, como exemplo citamos o paulista que em tempo record, estruturou uma plataforma com aplicativo, site, canal na TV aberta e toda uma logística para pelo menos contornar a situação, o programa exibe falhas é claro, afinal em TI existe uma premissa que nenhuma tecnologia é implementada sem um custo operacional, ou seja defeitos ocorrerão e só o tempo e a experiencia irão soluciona-los.
Contudo o grande problema não está na disponibilização de conteúdo ou na estrutura de uma grande plataforma de ensino, a bem verdade isso já existe a bastante tempo, como exemplo temos a Khan Acedemy no ensino de matemática, plataforma gratuita e amplamente usada no Brasil, ou ainda a CODE.ORG, destinada ao ensino de programação as crianças, também com um bom tempo de funcionamento, em relação as privadas temos a MATIFIC empresa de Israel a um bom tempo consolidada no ensino on-line de matemática, com um grande conhecimento do mercado e das condições acadêmicas do Brasil.
Nosso grande fosso é justamente a outra ponta da corda, o aluno. Aqui vamos pagar pelos nossos 500 e poucos anos de história de negligencias. Negligência com saneamento básico, com educação pública, com cultura e com distribuição de renda. Nestas poucas décadas a escola mesmo que de maneira precária vem servindo como porto nem sempre seguro para varias demandas sociais, é ali que as crianças e jovens muitas vezes encontra a principal refeição do dia e acreditem isso é muito, muito, muito, muito importante para quem passa fome, quando a barriga doí, todos os outros problemas são secundários, é lá que muitas vezes os alunos também encontram o único modelo de ambiente organizado e muitas vezes limpo, com água potável e banheiro, é lá que encontram espaço para brincar, pessoas que tenham paciência, o único lugar que tem acesso a livros e outros bens culturais como filmes e músicas. Então em março num estalar de dedos isso lhes foi retirado e como fica o aprendizado frente a todas essas carências, a meu ver parece relegado a segundo plano, infelizmente, é como as escolas em tempo de guerra, onde a principal preocupação é sobreviver, com exceção das explosões e da possível brutalidade do exército invasor não é muito diferente. Afinal é justamente as famílias mais pobres que estão sofrendo com a pandemia pois a grande maioria imersos no mercado informal perderam sua renda de uma hora para outra e como o auxílio do governo é mais simbólico e conseguido a duras penas a situação é calamitosa.
É uma grande falácia comerciais fofinhos com crianças branquinhas e loiras a estudarem em suas escrivaninhas com seus laptops e livros coloridos, com frases motivacionais e slogans de que o governo está fazendo a parte dele para garantir o aprendizado. Horas garanto que os alunos da rede particular estão a se virar, afinal se pensarmos do nosso pondo de vista os apetrechos para uma aula on-line nem são tão caros, tiro isso de exemplo próprio, pelo meu primo que está no 7º ano de um colégio particular, cuja as aulas a um mês vem sendo transmitido via aplicativo de vídeo conferencia, para isso ele dispõem de um notebook daquelas mais ordinários uma mesa no seu quarto que eu mesmo reformei, uma conexão de internet que não deve custar mais de R$ 100,00 mensais e seus livros. Mas grande questão é, tem famílias que nem mesa, sim nenhum tipo de mesa possuem em casa, a outras que mesmo tendo condições financeiras não possuem acesso e rede mundial de computadores, simplesmente porque não existe infraestrutura para tal e o país não possui nenhuma politica para expandir sua rede. Outras famílias até possuem os equipamentos e a rede, mas não dispõem de interesses ou vem com pouca importância o processo educacional das crianças, ou se o vem o tema fica no discurso.
Na verdade o que está acontecendo em analogia é que por anos empurramos a sujeira para embaixo do tapete, mascaramos nossa educação, nossa saúde e nossa cultura, fingimos numa atitude hipócrita nos importarmos com tais coisas e agora o tapete se esgarçou e precisou ser retirado da sala, toda a sujeira apareceu como mágica, a poeira impregnou nossas poltronas de veludo do século XIX, entupiu nossas conexões HDMI de nossas TVs Smarts e fez uma enorme mancha na nossa mesinha de centro cheia de revistas frívolas de moda e fofocas. Lamentavelmente a solução não será fácil nem rápida, demanda reestruturação nos alicerces e na alma de nossa sociedade, contudo acredito que nossa elite e sobretudo nossa classe média esteja mais disposta a trocar o tapete do que varrer a sujeira para fora da casa.