Março de 2019
O matemático sul africano Seymour Papert é considerado um dos maiores nomes na educação no uso de tecnologia no campo da aprendizagem.
Para Papert a criança é sujeito ativo no processo de seu próprio aprendizado, ele via sérios problemas com a estrutura tradicional que a escola apresentava, seja nos aspectos organizacionais seja nas questões curriculares, que ao seu ver remetiam a uma era industrial do início do século XIX, seguindo a lógica compartimentalização, tendo saberes, crianças e espaço físico separado por rígidas regras. Papert argumentava que num mundo em constante mudanças onde informações e conhecimento estavam começando ficar disponíveis de uma forma quase instantânea essa organização não fazia mais sentido.
Em 1967 Papert se muda para os Estados Unidos e vai lecionar no Massachusetts Institute of Technology (MIT) onde no início dos anos 80 passa a integrar a equipe do Midia Lab, departamento de pesquisa do MIT, responsável por inúmeras inovações, principalmente ligadas ao campo da eletrônica e informática. Foi no Midia Lab que Papert termina a criação da linguagem Logo.
Das influências que Papert sofreu talvez a maior tenha sido a de Jean Piaget com qual trabalhou na University of Geneva de 1958 a 1963 de maneira direta, mas continuou a contribuir com suas pesquisas até meados de 1967.
Das idéias piagetianas que segundo o próprio Piaget, Papert era o que melhor as compreendia, Seymour Papert compreendeu os complexo mecanismos de construção da aprendizagem por parte das crianças, ressaltando a importância da qualidade das interações e das oportunidades oferecida aos pequenos no intuito de estimular processos educacionais mais ricos e efetivos.
Ao criar a linguagem Logo ele pretende oferecer à criança uma poderosa ferramenta de aprendizagem, capaz de potencializar a autonomia intelectual. Ele era ferrenho crítico dos rumos que alguns setores pedagógicos tomaram quanto ao uso da tecnologia, em especial os computadores. Via como velhas tendências numa roupagem nova, onde o conhecimento compartimentado era transmitido por softwares que tendo os conteúdos e processos avaliativos planejados e programados por terceiros deixava crianças e mesmo professores como meros executores passivos do processo.
No uso da linguagem Logo que na época da sua criação consistia em uma linguagem em linhas de comando, onde comandos eram enviados a um pequeno robô que realizava percursos e imprimia traços na superfície onde se deslocava. Com isso possibilita a criação de inúmeras situações de aprendizagens desafiadoras ao intelecto infantil.
O legado de Papert que faleceu em 31 de junho de 2016 reverbera na continuidade e atualização de sua linguagem que hoje pode ser executada de modo online, ou mesmo dos avanços de sua pesquisa, como a criação de outras linguagens derivadas das ideias pedagógicas da Logo, como o Scratch criado no mesmo Midia Lab que Papert trabalhou por anos por um de seus alunos Mitchel Resnick em 2007, uma linguagem de programação em blocos mais adaptado às possibilidades tecnológicas da atualidade, mas fiéis aos princípios de independência e autonomia do aprendiz.
Das suas inúmeras visitas ao Brasil, principalmente a universidades paulistas, como Unicamp e PUC, fica esse magnífico encontro entre o educador americano e nosso expoente máximo, Paulo Freire, tão citado por Papert, a entrevista completa está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=FnVCyL9BwS8&t=2003s
Equipamento original nas dependências do Midia Lab nos anos 70, ao se digitar um os comandos o robô imprimi o caminho na superfície.
Papert orientou sua carreira com uma constante preocupação com a educação e a formação integral da criança.