É comum ouvirmos que nossas crianças e adolescentes não largam seus celulares, que as crianças hipnotizadas pela telinha do smartphone não brincam e que os adolescentes estão cada vez mais retraídos vivendo em um mundo virtual. Contudo nossos adultos deveriam por vezes se olharem no espelho e observar como a relação com seu aparelho celular vem afetando sua vida em família, sua relação com filhos, seus pais e cônjuges.
A apenas alguns anos volta e meia escutava algum “adulto” cantando bravata, de que odiava computadores e que nunca os usaria, algum tempo passou, Steve Jobs em 2007 lançou o Iphone, a Google foi na esteira e em alguns anos seu sistema Operacional o Android dominou o mercado, outras fabricantes, principalmente as asiáticas como Samsung, LG, Sony transformaram os Smartphones de objetos de “caras descolados e endinheirados” em um equipamento corriqueiro, como um barbeador descartável, embora por vezes não tão barato. Agora esses mesmos tecnofóbicos vivem a pedir sugestões sobre filtros do Instagram, ou como colocar aquele efeito bacana na foto do perfil do Facebook ou ainda qual aplicativo é o melhor para se encontrar receitas bolos ou massas.
Contudo o que a princípio parecia apenas ser mais um equipamento hi tech, um modismo do século XXI, vem se mostrando num divisor de água, comparável por alguns estudiosos como a invenção do motor a vapor ou da eletricidade.
Embora os smartphones não tenham afetado a cadeia produtiva como as máquinas a vapores o fizeram, seu impacto no setor de serviços foi esmagador, de repente todos podem ser contatados, todos tem um perfil em alguma rede social ou mensageiro instantâneo, comunicação via vídeo se tornou tão habitual como nos filmes de ficção científica dos anos 60, e mais recentemente a explosão dos apps de serviços, onde quase tudo é feito via smartphone de entrega de comida, paquera, procura de emprego, até o transporte público foi afetado com a chegada dos serviços como o UBER e aplicativos similares, alterando relações trabalhistas e regulamentação estatal.
Neste contexto as relações familiares não conseguiriam escapar a sua influência, com o advento da mobilidade de informação as redes sociais que já existiam desde os anos 2000 se tornaram quase onipresente, o conglomerado liderado por Mark Zuckerberg que abarca entre inumeras empresas mais em especial o Facebook, o Instagram e o Whatapp controla hoje quase metade da comunicação global. Costumes acabaram se criando, e as relações pessoais estão aos poucos se alterando, e nem sempre essa mudança vem com resultados positivos.
Se os adultos tendem a reclamar do comportamento de seu filhos, estes por sua vez acabam tendo queixas bem mais sérias sobre como seus pais fazem uso destas tecnologias. Em uma pesquisa publicada pela ONG americana Common Sense Media, realizada com 500 famílias americanas com entrevistas realizadas por telefone ou email constatou que 68% dos pais acham que os filhos passam tempo demais usando seus aparelhos, contudo pelo lado dos filhos 39%, acreditam que os pais também exageram no uso dos smartphones.
O estudo também corrobora que a maioria das crianças 56% com pais que abusam da horas de uso também tem problemas para controlar seu tempo com os aparelhos.
A algum tempo circulou nas redes sociais um deprimente vídeo onde uma pequena garotinha, talvez por volta dos 2 ou 3 anos insistia por atenção da mãe e está vidrada na tela de seu celular ignorava a criança, chegando em certo momento a afastá-la com um pequeno empurrão, enquanto a pobrezinha suplicava.
Talvez tal qual o tabaco que ao ser descoberto pelos europeus no século XVI foi considerado uma sensação e ao longo do tempo até recomendado como remédio para acalmar os nervos e pasmem, curar tosses, os celulares chegaram como a grande panaceia do desenvolvimento humano, a invenção definitiva que iria conectar a todos, democratizar a informação a possibilitar humanidade a adentrar numa nova era. O que de fato aconteceu, o problema é que essas era dourada vem cobrando um alto preço nas relações sociais e na saúde das famílias que por vezes acabam conversando menos, lendo menos e até dormindo menos.
É como se aos poucos a ideia do filme Matrix de humanos vivendo numa realidade virtual estivesse sendo implantado, só que não por robôs terríveis com tentáculos metálicos, mas por um aparelhinho aparentemente inofensivo que costuma ficar guardado no bolso de nossa calça.