Fica claro e cristalino neste tempo de supremacia das redes sociais que as habilidades que podem ser atribuídas a uma pessoa dita “letrada” mudaram radicalmente, se antes a cultura livresca, a habilidade de interpretar colunas e ensaios jornalísticos era parâmetro de boa cultura, agora os tempos são outros, mais complexos e com eles novas habilidades são necessárias, veja o exemplo das redes sociais, são uma onipotência na sociedade, mas com elas vieram o germe secular da fofoca e maledicência conhecida atualmente como “fake new” termo em inglês que traduzido significa notícia falsa, boato, mentira proposital, lançada com objetivos espúrios, por vezes difamatórios por vezes com interesses políticos ou econômicos.
Tudo isso deveria refletir na escola, que no entanto insiste em formar um cidadão para a década de 80.
Integrar as antigas habilidades de leitura, interpretação e gramatica as novas demandas sociais, adaptada ao mundo onde as fontes de informação são instantâneas conectadas e acessíveis a uma criança pré-escolar por meio de um Smartphone é talvez uma das mais urgentes tarefas da atual escola.
Neste contexto falaremos de uma nova expressão de comunicação, os textos multimodais, ou seja textos onde o suporte escrito não é o predominante, valendo-se de imagens, recursos gráficos e tipográficos (tipos de letras), sons, vídeos e hiperlinks. o fenômeno não é novo, Nascimento (2011) já afirma que nenhum texto é monomodal, quando um autor destaca uma palavra com um traço ou um sublinhado já está usando características de outra linguagem que não a escrita para enfatizar uma mensagem. Contudo com advento da informática e sobretudo da internet, cores, texturas de fundo, composição de letras e demais arranjos se tornaram fortes elementos na composição de um texto. Onde alguns autores já afirmam que tais elementos deixaram ou estão deixando de serem elementos auxiliares a palavra escrita, e estão se tornando fortes elementos essenciais na composição da mensagem, Souza e Cipriano (2015).
Com isso cabe a nova pedagogia educar o olhar, aguçar o senso estético, coisa que a disciplina de Língua Portuguesa pode não dar conta, onde recorremos a interferência das artes, com suas interpretações de cores e mensagens múltiplas que só a sensibilidade artística pode trazer. Fato que fez com que a maioria dos países de primeiro mundo investissem fortemente em disciplinas ligadas a expressividade artística, como dança, música e artes plásticas. Já no Brasil o discurso pedagógico tende a seguir caminhos mais conservadores, favorecendo disciplinas ditas essenciais como a Matemática e Língua Portuguesa, com o argumento que nossos alunos leem e interpretam mal conforme exames nacionais e internacionais demonstram, contudo cabe a ressalva, fazer mais do mesmo, aumentar a extenuantes e já comprovadas ineficientes metodologias seriam o ideal, dariam conta da complexidade de gêneros textuais, que mesmo uma criança pequena tem de enfrentar?
Na outra ponta a academia (universidades) assumem uma postura um tanto ambígua, se por um lado a maioria do debate sobre esse tema vêm de suas cadeiras, estando elas na vanguarda da discussão deste tema, suas práticas, principalmente ligadas a formação dos docentes, sobretudo nos cursos de letras, que parecem destinados a formar bacharéis (seja lá a utilidade disso hoje) do que professores, não incorporam ou se o fazem é de maneira tímida, ajudando a aprofundar essa questão mesmo entre os recém formados, que na maioria, jovens já nascidos na era digital, mas que como docentes não são capazes de interpretar a realidade que estão inseridos, a não ser pelos velhos chavões de seus antecessores, “De que esse mundo mudou e as crianças estão mais espertas nestas coisas de internet”
A verdadeira mudança só ocorrerá quando de forma integrada universidades, governo e escolas se alinharem com o objetivo de desenvolver essas novas competências em nossos alunos. Quando a velha visão disciplinar, de conhecimentos separados por disciplinas for rompido, assim como a internet rompeu com as barreiras de tempo e espaço e possibilitou que uma mensagem possa ser composta de variados suportes e linguagens. Até lá seremos como as velhas páginas de internet dos anos 90, simulacro do passado tentando emular as páginas de uma revista que já não existe mais.
Referências
NASCIMENTO, R. G.; BEZERRA, F. A. S.; HEBERLE, V. M.. “Multiletramentos: iniciação à análise de imagens”. Linguagem & Ensino, v. 14, n. 2, p. 529-552, 2012.
CIPRIANO, L.C; SOUZA, F.E.B de; PORFÍRIO, S. Textos multimodais: a nova tendência na comunicação, Observatório da Imprensa, 29 de julho de 2015, edição 861. Acessado em 10 de maio de 2019 às 13:30, disponível em << http://observatoriodaimprensa.com.br/diretorio-academico/textos-multimodais-a-nova-tendencia-na-comunicacao/>>
TEXTOS MULTIMODAIS: LEITURA E PRODUÇÃO
Autor: RIBEIRO, ANA ELISA
Editora Parábola
Sinopse; Textos multimodais- leitura e produção é o resultado, bem prático, de uma pesquisa sobre textos multimodais na escola básica, especialmente no ensino médio. O que se pode esperar de alunos expostos a esses textos quase só em aulas de geografia, matemática ou outras disciplinas que lidam mais diretamente com a leitura e a produção de imagens e visualizações? Será que, ainda hoje, vale a pena pensar as aulas de língua materna exclusivamente para o trabalho com textos verbais? O que acontece quando um professor descarta fotos, ilustrações, gráficos e outros elementos de um texto originalmente composto por várias linguagens? Com exemplos e análises, este livro apresenta, de um jeito simples e leve, modos de provocar e de desenvolver a leitura e a escrita de textos multimodais, principalmente nas aulas que têm a linguagem como objeto de ensino e aprendizagem.