Quando pensamos em tecnologia na educação, a primeira coisa que vem à mente são salas lotadas de laptops e tablets, impressoras 3D e todo tipo de conexão possível, crianças vidradas em telas coloridas, contudo se analisarmos o termo mais a fundo considerando o dicionário:
tecnologia
tec·no·lo·gi·a ----sf
1 Conjunto de processos, métodos, técnicas e ferramentas relativos a arte, indústria, educação etc.: “O ensaio me pareceu muito bem craniado. Só notei que estás demasiadamente fascinado pela tecnologia. Daí a aceitar sem reservas a tecnocracia é um passo muito curto” (EV).
2 Conhecimento técnico e científico e suas aplicações a um campo particular: “Os serviços de informação e inteligência do Departamento de Estado norte-americano já dispunham de tecnologia suficiente para rastrear o encontro num quarto de hospital de dois personagens secundários […]” (CA).
3 POR EXT Tudo o que é novo em matéria de conhecimento técnico e científico.
4 Linguagem peculiar a um ramo determinado do conhecimento, teórico ou prático.
5 Aplicação dos conhecimentos científicos à produção em geral: Vivemos o momento da grande tecnologia. (Disponível: Michaelis eletrônico, <<http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/tecnologia/#targetText=3%20por%20ext%20Tudo%20o,o%20momento%20da%20grande%20tecnologia.>>)
Como vimos trata de recursos que facilitam ou revolucionam uma determinada atividade ou situação. No caso da educação cuja as ferramentas pouco mudaram desde o século XVIII a adoção das TICs (Técnologia da Informação e Comunicação) que vem alterando nossas relações sociais em praticamente todos os níveis sociais. Embora reticente em mudar seu “modus operandi” a escola vê hoje estas alterações adentrarem seus portões.
Mas como as instituições devem utilizar esses novos recurso em prol da aprendizagem do aluno?
Neste contexto devemos nos ater em 3 pontos muito importantes:
A adoção pura e simples da tecnologia não resultará em avanço da aprendizagem Basta ver a massiva aquisição de equipamentos no inicio dos anos 2000, por fim a maioria dos laboratórios de informática acabaram subutilizados devido a falta de recursos e profissionais especializados. Exemplos temos em abundância, salas abandonadas, tabletes encaixotados redes WIFI cuja a senha é guardada como segredo de cofre bancário, e mesmo quando o aluno se cansou de esperar a escola disponibilizar os equipamento, e resolveu trazer o seu próprio computador com sua conexão particular, foi barrado por decreto estadual como no caso do Estado de São Paulo com a LEI Nº 12.730, DE 11 DE OUTUBRO DE 2007 que proibia completamente o uso dos aparelhos celulares nas escolas estaduais pelos alunos. Tal medida foi modificada pela Lei 860/2016 que libera os aparelhos para fins pedagógicos. Mas já havia deixado seu triste legado de quase 10 anos em que o tema não foi discutido com seriedade.
A simples compra ou banimento de equipamentos tende a simplificar um processo extremamente complexo onde o elemento central deve ser a relação entre as pessoas mediadas pela tecnologia e não o acúmulo de hardware e botões.
Nada é tão simples, de frente ao computador o que faremos? Bom temos o laboratório montado, um professor bem capacitado e remunerado, toda sorte de insumo e uma internet parruda para as aulas, o que fazer? Que linha educacional seguir? Usar programas educacionais, criar programas, trabalhar com projetos e se sim, como?
Hoje no mercado educacional vem se popularizando programas educativos que abordam por vezes de maneira lúdica ou tentando ser, disciplinas escolares tradicionais, como conceitos matemáticos, alfabetização, literatura entre outros. O problema desta abordagem é que acaba deixando o professor fora do processo educacional, uma vez que está fora do seu controle já que não foi ele quem programou ou planejou o software.
Nesta abordagem a tecnologia é vista como mais um material de reforço para as disciplinas, o que é louvável, mas não a única maneira das crianças adquirirem habilidades e competências, já que algumas habilidades tal abordagem pedagógica não permite alcançar, como o trabalho em grupo ou a resolução de problemas contextualizada.
A abordagem construcionista procura superar esse paradigma. Elaborada por Seymour Papert que usa os computadores como ferramentas de uma aprendizagem ativa. Nela busca-se que a criança por meio do computador construa suas habilidades, geralmente por meio da programação, como a linguagem LOGO desenvolvido por Papert e mais recentemente a linguagem em blocos de programação Scratch criada no MIT em 2007.
Com elas as crianças devem por meio da programação resolver situações específicas que favoreçam a aquisição de habilidades. No construcionismo não ficamos apenas presos aos computadores, embora eles são parte fundamental, podem-se criar diversas situações onde o protagonismo do aluno definirá as atividades e até mesmo a abordagem dos estudos.
Preparar para um novo mundo que ninguém sabe qual será. Hoje o mercado de trabalho com as constantes modificações ocorridas na sociedade se tornou extremamente instável, a cada dia profissões das mais inusitadas nascem, como curador de mídias sociais, educador de inteligência artificial, youtuber ou os famosos digital influencer celebridades quase sempre nascidas diante das lentes de um simples smartphone e que com um grande engajamento nas redes sociais acaba conquistando diversos patrocínios publicitários devido a sua exposição. Em contrapartida, milhares de profissões tradicionais foram extintas, pergunte a moça do balcão da vídeo locadora ou ao garoto da portaria que foi substituído por um totem eletrônico. Outras ainda estão na eminencia de sucumbirem, principalmente na area de prestação de serviço, como taxistas, pedreiros, balconistas, caixas de supermercados, atendentes de telemarketing e toda sorte de trabalhadores rurais cuja o avanço da mecanização por vezes chega a ser tão ou mais penetrante do que em outros setores como a indústria.
Como municiar nossas crianças para um mundo improvável, cuja os exemplos dos pais e tios não terá grande serventia, como alterar uma escola que ainda olha para os anos 80 e ainda fica saudosa com o cheiro do mimeógrafo.
Neste ponto não é apenas uma mudança de currículo pedagógico mais de paradigma de infância e de sociedade, é a reestruturação do como e porque fazer.
A palavra tecnologia, acaba tendo um uso genérico, quase sempre associada ao uso de apetrechos de informática nas aulas, contudo devemos corrigir isso, uma vez que tecnologia pode ser entendida como qualquer artefato e por sua vez giz e lousa são tecnologias, talvez as que mais transmitiram conhecimento no século XX, ou seja a questão não está no objeto mas no uso e na relação que faz dele.
Outra indagação que devemos fazer é; Qual aprendizagem? Como versa a bíblia colocaremos remendos novos em calças velhas? Usaremos as TCIs como perfumaria sedutora, ensinando os mesmos valores caducos de cópia e memorização, que são importante mas que de modo algum constitui o complexo da aprendizagem humana. E por fim é o que se trata, aprendizagem, evolução cognitiva, tentar por meio de um processo educacional mais crítico e pluralista criar uma sociedade melhor.