Lucas RC Oliveira
O Coronavírus, não apenas prejudicou a humanidade de maneira direta, com suas infecções e os problemas respiratórios ligados diretamente à patologia, os efeitos colaterais da pandemia, com o prolongado isolamento também cobraram seu preço da sociedade. Todas as faixas etárias de alguma forma foram afetadas e embora nas crianças o vírus não tenha levado a um número excessivo de mortes, os transtornos mentais advindos do prolongado isolamento e as perdas educacionais foram os mais proeminentes.
Contudo um dos maiores males foi um subproduto da pandemia aliado ao nosso estilo de vida hiper conectado, o drástico aumento da exposição a telas. Num mundo onde monitores se disseminaram, tornando-se elementos comuns no nosso dia a dia, crianças ficam cada vez mais expostas a seus efeitos, e infelizmente estes nem sempre são bons. Segundo a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) o tempo médio para a permanência de crianças pequenas é de apenas uma hora, sendo que na pandemia elas permaneceram mais de quatro horas, são alguns dos dados da pesquisa UFMG, Universidade Federal de Minas Gerais, em parceria com outras universidades do Brasil e coordenada pela neuropediatra Liubiana Arantes. Segundo a pesquisa que ouviu mais de 6 mil crianças e pais, o tempo foi extremamente extrapolado em relação ao que recomenda a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), crianças maiores têm recomendação de duas horas diárias. Segundo 51% dos pais entrevistados, o tempo foi extrapolado excessivamente. Outros 24% responderam que os filhos tiveram entre duas e três horas de uso. Aliados a esses dados podemos somar o pouco ou nenhum acesso a áreas de lazer como parques e playgrounds, tornou a vida dessas crianças extremamente dependentes desses dispositivos, sejam para seu momento de lazer sejam para as atividades escolares e contato com amigos e familiares.
O uso excessivo de telas tende a causar inúmeros distúrbios, um dos mais significativos são os ligados a constante liberação de dopamina pelo cérebro, a dopamina é um neurotransmissor que atua em diversas funções do cérebro e tem como uma de suas funções regular o humor e atenção. A liberação de dopamina é um processo natural, contudo sua elevada liberação causa dependência, fato evidenciado pelo consumo de drogas como cocaína e crack que causam uma enxurrada de dopamina no cérebro durante seu uso. Estudos recentes tendem a comprovar que alguns aplicativos, sobretudo rede sociais e mais recentemente o fenômeno dos “shorts vídeos” com aplicativos como o Tic Tok ou os reels do Instagram causam uma excessiva liberação dessa substância no cérebro, com a exibição dos seus vídeos curtos com no máximo 30 segundos de duração, fazendo com que muitos usuários permaneçam por horas consumindo esse tipo de entretenimento. Em adultos o resultado já é nefasto, mas em crianças e adolescentes onde o cérebro ainda está em formação o resultado pode ser nefasto, com gradativa perda de atenção, incapacidade de concentração em atividades que envolvam maior concentração como leitura ou filmes.
Outro problema é que com essa concentração de atenção nas telas outras partes do cérebro deixam de se desenvolver causando prejuízo irreversível no desenvolvimento.
Embora alguns achem extremamente difícil seguir as recomendações de uso da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) para uso de dispositivos eletrônicos, começam a existir correntes de pais que estão abolindo o seu uso para crianças pequenas, pais que postergam ao máximo a introdução destas tecnologias a seus filhos.
Por princípio pais amam seus filhos e embora sofram pressão social para fornecer esses dispositivos a suas crianças, querem acima de tudo o bem às crianças, e com o fim da pandemia podemos estar diante do início da discussão de forma séria de um novo problema que a atual tecnologia nos apresenta.
Evitar a exposição de crianças menores de dois anos às telas, mesmo que passivamente;
Limitar o tempo de telas ao máximo de uma hora por dia, sempre com supervisão, para crianças com idades entre dois e cinco anos;
Limitar o tempo de telas ao máximo de uma ou duas horas por dia, sempre com supervisão, para crianças com idades entre seis e 10 anos;
Limitar o tempo de telas e jogos de videogames a duas ou três horas por dia, sempre com supervisão e nunca "virando a noite" jogando, para adolescentes com idades entre 11 e 18 anos;
Para todas as idades: nada de telas durante as refeições e desconectar uma a duas horas antes de dormir;
Oferecer como alternativas: atividades esportivas, exercícios ao ar livre ou em contato direto com a natureza, sempre com supervisão responsável;
Criar regras saudáveis para o uso de equipamentos e aplicativos digitais, além das regras de segurança, senhas e filtros apropriados para toda família, incluindo momentos de desconexão e mais convivência familiar;
Encontros com desconhecidos online ou offline devem ser evitados; saber com quem e onde seu filho está, e o que está jogando ou sobre conteúdos de risco transmitidos (mensagens, vídeos ou webcam) é responsabilidade legal dos pais/cuidadores;
Conteúdos ou vídeos com teor de violência, abusos, exploração sexual, nudez, pornografia ou produções inadequadas e danosas ao desenvolvimento cerebral e mental de crianças e adolescentes, postados por cyber criminosos, devem ser denunciados e retirados pelas empresas de entretenimento ou publicidade responsáveis.
Fonte: https://emais.estadao.com.br/blogs/kids/uso-excessivo-de-telas-na-pandemia-provoca-danos-a-saude-mental-em-criancas-e-adolescentes/